De QR Codes a pagamentos por aproximação, passando por wearables e celulares, o mundo dos meios de pagamento está mudando rapidamente
Uma das grandes tendências nos meios de pagamento é o uso do celular como ferramenta transacional. Especialmente nas lojas físicas e em mercados com grande população desbancarizada, esse é um meio de pagamento que vem se tornando extremamente popular: em todo o mundo, a expectativa do estudo Global Payment Report é que em 2022 o uso de meios mobile ou carteiras digitais se aproximem dos cartões de débito como a ferramenta mais utilizada pelos consumidores. Já em 2020, devem ultrapassar os cartões de crédito.
Com a grande população chinesa, não chega a ser uma surpresa que o mercado global de pagamentos digitais seja dominado por empresas do país. O WeChat Pay lidera naquele mercado, com 823 milhões de pessoas usando a ferramenta para enviar e receber presentes em dinheiro no Ano Novo (que se comemora em fevereiro na China).
Mas o uso dos celulares como meio de pagamento é um lado de um fenômeno que vem ganhando espaço em todo o mundo: o uso de modelos de transação que não dependem de inserir o cartão de crédito ou débito em um terminal. Os pagamentos por aproximação (contactless) já representam cerca de 20% das transações realizadas presencialmente nas lojas físicas e cresceram 344% no Brasil entre o segundo semestre de 2017 e a primeira metade de 2018. Apesar disso, ainda engatinham por aqui: a Mastercard espera para 2019 um crescimento de 20 vezes no número de transações.
Velocidade e praticidade
O grande estímulo para a expansão das transações contactless é a praticidade para o consumidor. Especialmente em transações de baixo valor, a possibilidade de realizar pagamentos em menos de um segundo é um grande estímulo. A decisão do Metrô do Rio de Janeiro de passar a aceitar cartões Visa com tecnologia contactless em suas catracas pode funcionar como um grande estímulo, pois elimina a necessidade de recarga do cartão de transporte (que, em todo o mundo, foi um dos pioneiros do sistema contactless). No setor de supermercados, a parceria do Carrefour com a Samsung Pay permite a autorização de compras usando smartphones e smartwatches sem a necessidade de usar cartões físicos, em lojas da supermercadista e estabelecimentos parceiros.
Em mercados mais maduros, o uso de transações contactless está evoluindo constantemente. Na Europa, mais de 40% das transações de pagamento utilizam tecnologias sem contato e o número só cresce, enquanto na Austrália cerca de 90% dos pagamentos são realizados por meio de equipamentos que usam o sistema.
Questão de relacionamento
O uso de pagamentos por aproximação representa uma vantagem para os consumidores e novas oportunidades para as empresas. Enquanto os players tradicionais do setor financeiro, como adquirentes e bancos, buscam manter seu domínio de mercado, o crescimento das fintechs traz novos competidores que, com uma estrutura de custos enxuta e usando tecnologia de forma intensa para desenvolver novos conceitos de negócios, abrem novas possibilidades de coleta de dados e de relacionamento com os consumidores.
A China é, mais uma vez, o exemplo a ser seguido: lá, duas empresas de tecnologia (Tencent e Alibaba) aproveitaram a transição do mercado de meios de pagamento do dinheiro físico diretamente para o mobile (lá, os cartões de crédito têm participação mínima) e construíram verdadeiros ecossistemas nos quais é muito mais prático usar apps como WeChat Pay e Alipay para realizar pagamentos, de itens cotidianos a produtos de alto valor agregado.
No Brasil, essa é uma tendência que ganhou muita força: um estudo da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) mostra que os pagamentos via aplicativo e QR Code já são usados por 24% e 17% dos consumidores entrevistados, respectivamente. Em 2018, os pagamentos via app eram citados por 4% do público e o QR Code nem recebia citações. O mercado está mudando rapidamente e oportunidades antes inimagináveis passam a surgir.
Um exemplo disso é o fato de que a rede de cafeterias Starbucks possui o aplicativo de pagamento mobile mais usado no mercado americano. Nas lojas da rede, o app permite realizar o pedido sem que o cliente esteja na loja, passando no PDV só para retirar os produtos. Usado por 23,4 milhões de pessoas em 2018, o aplicativo é o mais popular nos EUA, superando concorrentes como Apple Pay, Samsung Pay e Google Pay (que só funcionam nos celulares de suas próprias marcas).
O aumento da oferta de serviços e a entrada de empresas de diversos setores no setor de meios de pagamento farão com que meios de pagamento contactless sejam cada vez mais relevantes no dia a dia dos consumidores e do varejo. Para grandes varejistas, essa pode ser uma oportunidade de dominar mais um passo da jornada de compra dos clientes (os pagamentos) e, com isso, adquirir mais informações sobre os clientes e oferecer a eles condições mais vantajosas, com base em seu perfil de comportamento.
O que vem por aí
Nos próximos anos, o ambiente de meios de pagamento contactless ficará mais complexo, com o crescimento de diversos meios de pagamento que influenciarão tanto a experiência dos clientes quanto o relacionamento deles com as marcas de varejo. Alguns desses meios de pagamento que poderão ganhar espaço na preferência dos clientes são:
Pagamentos por QR Code
Uma tendência cada vez mais presente no varejo físico, o pagamento por QR Code reduz o uso de dinheiro vivo e de cartões. Para o consumidor, o processo de pagamento é muito simples: o cliente abre o aplicativo de pagamento (que pode ser o do próprio varejista, como no caso da Starbucks e Magazine Luiza, ou de um “superapp” como Rappi e Mercado Pago) e apresenta o QR Code em um leitor de código de barras. A compra é debitada da carteira digital do cliente.
Cartões com NFC
Essa tecnologia usa um chip inserido no cartão para permitir que o pagamento seja feito pela aproximação do cartão em um leitor, sem a necessidade de inserir o cartão e digitar senha. É uma tecnologia bastante utilizada no setor de transportes (praticamente todas as grandes cidades do mundo usam esse sistema) e, no varejo, compras de baixo valor passam a não precisar de senha, acelerando muito o atendimento em momentos de grande movimento de público.
Dispositivos vestíveis
Pulseiras, relógios e tatuagens têm sido testados em eventos com grande fluxo de pessoas, como as Olimpíadas e o Rock in Rio. Em momentos de grande aglomeração de público, o uso de sistemas que processam a venda em menos de um segundo significa uma grande oportunidade de reduzir o atrito na relação com o consumidor e melhorar sua experiência de compra.
Biometria
Pagamentos por reconhecimento facial ou por impressão digital também são uma tendência de mercado. Na China, a Alipay (empresa de pagamentos do Alibaba) abriu uma farmácia em que os clientes podem pagar suas compras com reconhecimento facial. O escaneamento da face também é suficiente para validar a identidade do consumidor, no caso da compra de medicamentos sob prescrição.
Pagamentos por mensagem
O WeChat, na China, permite que os usuários transfiram dinheiro para outros usuários a partir de mensagens de texto. O recém-lançado C6 Bank, no Brasil, também oferece essa modalidade de pagamento, mesmo para DOCs e TEDs.
Este é apenas o início de uma grande revolução nos meios de pagamento do varejo brasileiro. É, também, uma oportunidade de ocupar novos espaços no mercado e reforçar o relacionamento com os clientes, apresentando melhores experiências de compra e eliminando os pontos de atrito das transações.